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"O Caminhante do Tempo e o Herói Improvisado"

Bah, esse relógio triqui-triqui me pregou outra peça! Num piscar de olhos, lá estava eu, montado num cavalo que me encarava com aquela expressão típica de quem pensa: “Tchê, mas o que tu tá fazendo aí?”.

Espichei meus olhos e credo ,nem deu pra acreditar , me dei de cara com as tropas gaúchas, os lanças tremulando, a fumaça das batalhas e aquele clima de resistência.desta vez eu estava no meio da Revolução Farroupilha . Naquela hora eu ja estava mais assustado do que véia em conoa.

De repente, um homem parrudo, com um bigode que parecia ter vida própria, me olhou e disparou:

Buenas, vivente! Tás com cara de quem veio reforçar o exército!

Eu nem tinha tempo de reagir quando percebi que estava vestido à caráter: bombacha, alpargatas e um chapéu torto na cabeça. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, o bigodudo me puxou para a beira de uma fogueira e, com toda pompa, me entregou uma lança.

Hoje é dia de treino, gurizito!

Treino? Com lança? Eu mal conseguia segurar aquela coisa sem parecer um espantalho em dia de vento forte. O líder me observou com um sorriso debochado.

Tchê, tu tá segurando isso como se fosse um cabo de vassoura! Vai, mostra que tu serve pra alguma coisa no Desafio da Lança Voadora.

Tentei me concentrar. Respirei fundo, ajeitei a postura, fiz pose de quem sabia o que estava fazendo e… lancei a lança com toda força. O resultado? Foi parar direto no caldeirão de feijão! O silêncio que se seguiu foi tão pesado quanto panela vazia. Um dos homens, curioso, tirou a lança, deu uma provada no feijão e decretou:

Bah, ficou com gosto de madeira, mas ainda tá bom!

A tropa caiu na risada, e eu fiquei mais vermelho que o lenço que usavam. Pra escapar da vergonha, resolvi improvisar:

Pessoal, deixa comigo! Sou o Rei do Espeto no meu tempo!

Não era verdade, claro. Peguei a carne com toda a confiança do mundo, mas ela escorregou direto na brasa.

É uma técnica nova! Chama “carne defumada relâmpago”! — expliquei, enquanto tentava salvar o pedaço. No final, entreguei um espetinho meio torto, mas um dos lanceiros experimentou, arregalou os olhos e disse:

Bah, tá bom mesmo! Esse guri tem jeito!

Com a carne devidamente servida e o costelão no ponto, a festa tomou conta do acampamento. Uma gaita começou a tocar e, num piscar de olhos, os gaúchos estavam no meio de um animado baile de bombacha.

Quem tem coragem de encarar o velho aqui numa dança? — desafiou um senhor .

Antes que pudesse fugir, Luca foi puxado para o centro do círculo. Ele tentou acompanhar os passos do veterano, mas tropeçou nos panos da bombacha e caiu de cara no chão. Não satisfeito, ao cair, ainda puxou o velho junto.. No chão, ele gargalhava tanto que chorava.

Esse guri é engraçado até sem querer! Novo herói da Revolução!

No meio da euforia, o comandante apareceu. Elegante, desmontou do cavalo e me olhou de cima a baixo.

Precisamos de moral alta antes do confronto. Tu… — Ele analisou, com a cara séria. — Tu é o animador perfeito.

Animador?! Mas eu nem sei usar uma lança!

Melhor ainda. Quem não rir disso, tá morto por dentro.

Assim começou a nova missão de Luca. Ele foi levado para o centro de um círculo, cercado pelos soldados, todos de braços cruzados e expressões sérias. Tentando evitar um fiasco maior do que o de tentar lutar com uma lança, ele começou a improvisar:

— Buenas, gurizada… Eu sei que vocês são bravos e tal, mas alguém aqui já tentou montar um cavalo sem sela? Porque eu tentei agora há pouco e, olha… Acho que o cavalo quer me processar por maus-tratos!

Um silêncio pesado caiu sobre o grupo.

Luca engoliu em seco.

— Tá, tá… E aquela história de que o chimarrão ajuda na guerra? Porque, sinceramente, eu tentei tomar um gole agora e queimei mais a língua do que espingarda no meio da batalha!

De repente, alguém começou a rir baixinho. Outro soldado o acompanhou. Logo o círculo estava tomado por gargalhadas, inclusive do homem do bigode colossal, que ria tanto que o chapéu quase caiu da cabeça.

— Esse gurizito é bom! — ele disse, secando uma lágrima.

O comandante, ainda sério, apenas balançou a cabeça em aprovação.

— Muito bem, ele pode não ser bom com a lança, mas é uma arma secreta. Um espírito leve mantém o ânimo no alto. Vamos treinar, mas com um sorriso no rosto. E tu, piá, vai ficar no meio, que tua missão é evitar que alguém fique emburrado.

Luca sorriu, aliviado por escapar de um treino com lanças. Mas logo se arrependeu. O treinamento envolvia cavalgadas desajeitadas, tropeços engraçados e até quedas hilárias, e ele sempre acabava sendo o exemplo do que NÃO fazer. A cada erro, mais risadas.

No final do dia, o comandante chamou Luca.

— Gurizito, tu pode não ser o mais forte nem o mais valente, mas sem dúvida és o mais importante hoje. O riso une os homens. Obrigado.

Luca sorriu, sentindo-se pela primeira vez um herói. E assim, entre lanças e gargalhadas, ele percebeu que nem toda batalha se vence com armas — às vezes, basta um bom senso de humor e um pouco de coragem para ser quem você realmente é.

Entre tropeços e piadas, fui ganhando a tropa. Mas claro, a sorte não estava do meu lado. Durante uma simulação de ataque, me colocaram como “inimigo”. Vestiram-me com um balde na cabeça e um escudo improvisado que parecia uma tampa de panela. No meio da confusão, fui parar num cavalo. O problema? Esqueci de pegar as rédeas. O bicho disparou em direção a uma pilha de feno e, como era de se esperar, eu fui catapultado direto pra dentro dela.

Enquanto tentava me desatolar, gritei:
Alguém me ajuda aqui, ou vou virar espantalho oficial!

A gargalhada foi geral. Até o cavalo parecia rir de mim. O bigodudo deu um tapinha nas minhas costas, ainda rindo:

Gurizito, fica no humor mesmo. Na lança, tu não tem jeito!

No final do dia, o comandante me chamou:

Gurizito, tua missão é levantar o ânimo da tropa. Hoje eles riram como nunca. E com moral alta, a gente vence qualquer batalha. Agora vai descansar… e vê se fica longe do feno!

No final da noite, Luca percebeu que a moral do grupo estava alta. Ele tinha cumprido sua missão, mesmo que fosse à base de gafes e churrascos duvidosos. Quando o relógio começou a brilhar, indicando que era hora de partir, ele se despediu com uma última piada:

— Gurizada, lembrem-se: na batalha, quem rir por último… provavelmente estava escondido!

E, enquanto desaparecia no ar, ouviu o som das gargalhadas dos lanceiros ecoando pelo acampamento. Mais uma viagem, mais uma história cheia de confusão e risadas para contar.

De volta ao meu quarto, ainda meio zonzo da aventura, vi o relógio triqui-triqui sobre a cômoda, agora exibindo um novo símbolo: uma pequena lança cruzada com uma cuia de chimarrão, brilhando com uma luz dourada.

Fiquei encarando aquilo, tentando entender. “Será que esse treco tá colecionando as minhas trapalhadas históricas?” pensei, enquanto passava a mão na cabeça, ainda sentindo o cheiro de feno da última queda.

Mesmo com o corpo dolorido, não pude deixar de sorrir. “Bah, salvei a Revolução Farroupilha… na base da risada e de uns tombos bem dados!”

Olhei pro relógio, agora quieto e misterioso, e murmurei:
— Tá, meu amigo… Qual vai ser a próxima loucura que tu vai me aprontar?

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