“Cachaça, Laço e Surpresa”
Série - Espera que já te CONTO !
Microconto Gauchesco

"Cachaça, Laço e Surpresa"
Era uma vez o Seu Nico, um gaúcho de bigode farto, bombacha impecável e chapéu de aba larga. Ele vivia num rincão perdido do Rio Grande do Sul, cuidando do gado e tomando mate. Dizia-se que ele era um baita contador de histórias, mas também um campeiro desconfiado. Sempre que ia pra cidade, tinha fama de ser muito sério — só que naquela seriedade morava uma esperteza que deixava os outros de boca aberta.
Um dia, Seu Nico foi à venda da vila comprar querosene e um quilo de erva-mate. Chegando lá, encontrou o compadre Juca, que já tava na terceira ou quarta dose de cachaça.
— Ô, Seu Nico, o senhor num toma um trago com nóis? — gritou o Juca, todo faceiro.
— Bah, compadre, hoje não. Tô com pressa. Tenho que apartar uns bois que tão se perdendo pelo potreiro.
Mas o Juca insistiu tanto que Nico acabou aceitando. Foi um golinho só, mas o Juca já aproveitou pra puxar papo.
— E então, Nico, é verdade que o senhor laça até boi no escuro? Dizem que tua habilidade é coisa de cinema!
Nico só deu um sorrisinho discreto e disse:
— Bah, compadre, não é pra tanto. Mas, se tu duvida, podemos fazer um trato.
— Trato? Que trato? — perguntou o Juca, coçando a cabeça.
— Apostamos que eu laço um boi lá na tua estância sem nem olhar. Se eu conseguir, tu paga minha conta na venda. Se eu errar, pago a tua e ainda deixo um saco de milho pros teus bichos.
Juca, que já tinha mais cachaça do que juízo, aceitou na hora. E lá foram os dois até a estância do Juca, no meio da noite. Estava um breu tão grande que não se via nem a ponta do nariz.
Nico desceu do cavalo, pegou o laço, girou uma, duas, três vezes no ar e lançou com força. De repente, ouviram um barulho: PLÁ! Quando acenderam a lanterna, lá estava o boi, laçado certinho pelos chifres.
Juca ficou de boca aberta, mas não perdeu a chance de perguntar:
— Como é que tu fez isso, homem? No escuro, com a lua sumida e tudo?
Nico ajeitou o chapéu, deu uma tragada no palheiro e respondeu:
—Bah, compadre, simples: eu só laço quando sei que o boi tá no lugar certo. O segredo é conhecer o campo melhor que a palma da mão.
Moral da história? Nunca duvide da esperteza de um gaúcho, que eles sempre têm um truque na manga — ou no laço!
Autor
noisedigitalbr@gmail.com
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