Na janela que dava para uma ruela, a guria estalava os olhos em direção à estrada por onde tantas vezes passara. Por ela haviam ficado espalhados os risos, os sonhos, as alegrias. 

Mas seus olhos não enxergavam a rua amarga e agitada da cidade grande; viam o pampa da sua infância.Via o campo verde que se perdia no horizonte, o cheiro da terra molhada depois dos aguaceiros e o som dos passos do pai, com as bombachas arremangadas, tocando as vacas. 

Da cozinha, vinha o cheiro do carreteiro pronto pra janta. O vento, aquele que só o pampa sabia soprar, trazia junto os gritos dos bugios no mato, anunciando o fim do dia.

Uma lágrima escorreu, mas ela sorriu. No fundo do coração, sabia: a querência nunca a deixara. Cada lembrança era como um mate, simples e amargo, mas capaz de aquecer até os dias mais frios.