“O Relógio Trique-Trique nas Arábias”

“O Caminhante do Tempo e o Relógio Trique-Trique nas Arábias”
Era domingo, e o Luca, vivente cheio de planos pra ficar largado no sofá com o mate, já sabia: paz era um luxo que ele não podia ter enquanto aquele relógio trique-trique estivesse por perto. Mal ajeitou a cuia, o troço piscou e vibrou mais que celular de guria popular em grupo de WhatsApp.
— Ah, mas que praga esse troço! — resmungou Luca, pegando o relógio com o cuidado de quem já sabia que vinha encrenca.
Relutante, abriu a tampa do bicho. Foi só isso pra começar o redemoinho de luz. Lá foi o Luca…
Quando abriu os olhos, tchê, , tava num deserto.
Tinha umas dunas gigantes, um sol que parecia querer fritar ele vivo.
— Báh, caí nas Arábias, só pode. Só espero que tenha sombra e água fresca por aqui. — murmurou Luca, tapado de areia.
Olhou em volta e viu umas cúpulas douradas ao longe. Devia ser alguma cidade das Arábias. Ele já ia meter as canelas pra lá quando ouviu um grito.
— AAAAHHHHHHH!
De repente, um magricela de turbante apareceu correndo, com os braços pra cima e a cara de quem viu um fantasma. O cara vinha numa disparada tão desesperada que parecia estar competindo com o vento.
— Buenas, amigo! Tá precisando de ajuda ou tá só treinando pra uma maratona? — perguntou Luca, sem saber se ria ou saía correndo também.
Atrás dele, levantando poeira igual carreta desgovernada, vinha o quê? Uma toupeira gigante! Um bicho marrom, com uns dentes do tamanho de facões de açougueiro e umas patonas que pareciam pás de escavação.
Luca ficou paralisado por um segundo, pensando:
— “Tchê, isso aqui tá mais pra pesadelo do que pra deserto. Será que eu dormi na cuia de novo?”
Mas quando o magricela passou correndo e gritou:
— “NÃO FICA PARADO, ELA COME GENTE LENTA PRIMEIRO!”
Luca entendeu que tava na hora de correr junto.
Começo da Peleia
— Mas me diz, o que tu fez pra essa criatura tá tão braba contigo? — perguntou Luca, já suando mais que tampa de chaleira.
— “Eu só… eu só roubei o ovo dela, mas era pra fazer omelete!”
— Báh, mas tu tem coragem, hein!
Enquanto isso, a toupeira gigante vinha atrás, cavando na areia com uma velocidade que fazia parecer que o deserto tinha ganhado Wi-Fi de última geração.
Ah, mas a peleia tava formada, tchê! Luca e o magricela corriam que nem cusco em dia de churrasco, com a toupeira gigante levantando areia mais que ventania em tarde de temporal.
— Mas ô, vivente, tu roubou o ovo de que tamanho? — Luca perguntava, ofegante, enquanto tentava não tropeçar nas dunas.
— “Maior! Parecia uma bola de basquete!” — respondeu o magricela, com os olhos arregalados que nem dois ovos fritos.
— Mas bah, só tu pra inventar uma dessas! E o que que tu ia fazer com um omelete desse tamanho, alimentar um exército? — Luca deu uma risada nervosa, tentando não pensar nos dentes da toupeira.
A toupeira, por sua vez, parecia mais braba do que cusco quando roubam o osso.
— “Espera, espera!” — o magricela gritou, apontando pra frente. — “A cidade! Se a gente chegar lá, talvez a gente se salve!”
Luca olhou e viu as cúpulas douradas brilhando no horizonte. Mas tchê, parecia tão longe quanto o fim do mês pra quem tá sem pila.
— Tá, mas tu tá vendo algum Uber por aqui ou a gente vai ter que correr tudo isso na base do pé descalço?
— “Corre, tchê! Tá quase lá!”
Quase lá? Luca não acreditava muito, mas não tinha tempo de discutir. Atrás deles, a toupeira deu um salto que mais parecia coisa de filme, aterrissando perto o suficiente pra Luca sentir a areia quente voando no rosto.
— Tá loco! Isso aqui não é toupeira, é uma retroescavadeira com fome! — ele gritou, pegando um galho seco do chão.
Quando finalmente chegaram perto da cidade, Luca viu que tinha um portão enorme, fechado com uma tranca que parecia mais segura que cofre de banco.
— E agora, Einstein? Como é que a gente entra? — Luca perguntou, enquanto o magricela batia desesperado no portão.
— “Abre! Pelo amor dos céus, abre! É a toupeira do deserto!”
De cima do muro, apareceu um guarda de turbante, mastigando um espetinho com calma.
— O que houve desta vez Senhor?
— “Eu só queria omelete!”
— E tu vai acabar virando recheio, vivente! Abre logo isso aí, homem! — gritou Luca, olhando pra toupeira, que já tava preparando mais um salto.
Com uma tranquilidade que só aumentava o desespero, o guarda virou a chave e abriu o portão no último segundo. Luca e o magricela se jogaram pra dentro, enquanto o portão se fechava bem na fuça do bicho.
— “Mas que loucura, tchê!” — disse Luca, caindo sentado na areia da cidade. — “Da próxima vez que eu ouvir o trique-trique desse relógio, vou jogar fora. Tava melhor com a cuia na mão e a novela no sofá!”
O magricela, ainda arfando, olhou pra Luca e deu uma risadinha.
— “Omelete, era só isso que eu queria.”
— Pois então, aprende uma coisa: no próximo omelete, rouba galinha, não toupeira gigante! — Luca respondeu, balançando a cabeça,
— Bah, que bagual essa toupeira! E tu aí, magricela, me deve um churrasco por salvar tua pele, tchê!
O magricela deu uma risadinha nervosa, ainda arfando.
— “Eu agradeço, sim, mas… bom, a gente tem que conversar.”
— Conversar? Depois de tudo isso? Tu vai me dizer que essa história do ovo era mentira, né? — Luca perguntou, franzindo o cenho.
O magricela coçou a nuca, meio sem jeito, e respondeu:
— “Na verdade, é uma história mais complicada. Vem comigo.”
Antes que Luca pudesse protestar, o magricela o puxou pelo braço e o levou por um corredor estreito dentro do palácio. As paredes eram decoradas com mosaicos dourados, e havia estátuas de faraós por todo lado. Luca observava tudo com o cenho franzido, sentindo que algo não se encaixava.
— Bah, mas que lugar chique! Isso aqui é casa de quem? — ele perguntou.
O magricela parou diante de uma grande porta dourada, respirou fundo e a abriu. Do outro lado, um salão grandioso se revelou, com tronos ornamentados, tapetes de luxo e um teto tão alto que parecia tocar o céu. No centro do salão, havia um pedestal com um turbante decorado com joias reluzentes.
— “Bem, bem-vindo ao meu lar, Luca. Eu sou Ankhtep VII, o faraó deste reino.”
Luca piscou, sem acreditar no que ouvia.
— O quê?! Tu tá me dizendo que esse magricela, correndo que nem uma galinha sem cabeça, é o faraó? — Ele deu uma risada nervosa, apontando para o homem. — Tá, conta outra!
Ankhtep, ou melhor, o magricela, deu um sorriso tímido.
— “Eu sou, sim. Mas meu povo pensa que fui capturado. Eu fugi pra salvar o meu reino, porque a toupeira gigante era só o começo. Tem uma seita de feiticeiros que quer roubar meu poder.”
Luca cruzou os braços, ainda incrédulo.
— Bah, mas então tu me enfiou nessa história toda porque precisa de ajuda, né? Só pra eu correr atrás da tua encrenca enquanto tu fica aqui no palácio bonito.
O faraó balançou a cabeça, com uma expressão séria.
— “Não, Luca. O relógio te escolheu. Tu é o único que pode me ajudar a derrotar os feiticeiros. Sem ti, meu reino tá perdido.”
Luca olhou para o relógio trique-trique em seu pulso, que brilhou como se confirmasse as palavras do faraó. Ele bufou, passando a mão na testa.
— Tá bom, tá bom, parece que eu não tenho escolha. Mas, ó, faraó, depois disso tu me deve uma semana de sombra, água fresca e um banquete do tamanho de uma festa de casamento, entendeu?
Ankhtep VII deu um sorriso aliviado e fez um sinal para que Luca o acompanhasse.
— “Combinado, tchê. Agora, vamos planejar como derrotar esses feiticeiros antes que seja tarde demais.”
Luca suspirou, seguindo o faraó pelo salão. No fundo, ele sabia que não ia mais ter sossego enquanto aquele relógio trique-trique estivesse por perto. Mas, bah, que outra escolha ele tinha.
E assim, tchê, Luca seguiu o faraó Ankhtep VII pelo palácio, com o relógio trique-trique no pulso piscando como se estivesse dando risada da situação. Um gaúcho com cuia na mão, agora encarregado de salvar um reino perdido no deserto? Bah, parecia piada pronta.
Se Luca ia conseguir derrotar os feiticeiros, salvar o faraó e ainda arrumar um jeito de voltar pro seu mate e seu sofá, ninguém sabia. Mas, por enquanto, ele tava no meio de um causo tão enrolado que nem mesmo o melhor chimarrão podia desentortar.
E pra vocês, que tão aí na volta da roda de mate, fica a dúvida: será que o Luca sai dessa encrenca? Ou será que vai virar lenda junto com o tal do faraó? Ah, tchê, isso só vamos saber no próximo churrasco, quando o causo continua!
Autor
noisedigitalbr@gmail.com
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